O ‘holeshot device’

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Utilizado pelos pilotos de motocross e supercross desde 2001, o sistema de ‘holeshot’ que actualmente vemos nas motos de MotoGP nada tem de semelhante a não ser mesmo o nome. ‘Holeshot’ foi a palavra criada pelos praticantes e seguidores, para designar o melhor piloto no arranque de uma corrida de motocross e normalmente uma linha branca na saída da primeira curva define e marca o ponto de ‘holeshot’. Quando a grelha de partida cai, os pilotos que estão ‘presos’ pela mesma arrancam e o primeiro a passar essa mesma linha é aquele que ‘faz o holeshot’.

No MotoGP nada disso existe e qualquer semelhança só pode mesmo ser justificada pelo nome. Nas motos de motocross reduz-se o curso da suspensão dianteira para aquela primeira recta – quando se trava pela primeira vez o sistema solta o ‘travão’ imposto ao curso de suspensão e esta fica ‘normal’ com amplo uso de todas as suas capacidades. Pelo facto de poder ser utilizado apenas para o arranque e ter surgido pela primeira vez nas pistas de motocross e supercross, ganhou o nome de ‘holeshot device’ ou sistema de ‘holeshot’.

No caso do MotoGP, tudo o que rodeia o sistema é muito mais tecnológico e avançado e logo aquando da sua primeira aparição – no GP do Japão em Motegi no ano de 2018, na Ducati-Pramac de Jack Miller – ficou claro que os génios de Filippo Preziosi e Gigi Dall’Igna alinharam de forma perfeita, para mais uma revolução no mundo do MotoGP. No ano seguinte, todas as GP19 surgiram com o sistema, de imediato contestado pelas equipas adversárias.

Distinto do sistema do motocross, o ‘holeshot’ utilizado no MotoGP não baixa a suspensão dianteira apenas, actua igualmente sobre a traseira ao baixar a mesma de forma a aumentar a capacidade de tracção mecânica da roda traseira e, se nos primeiros momentos eram dois comandos de accionamento mecânico colocados na ‘mesa de direcção’ que baixavam as motos da Ducati, mais recentemente esse comando passou a ser hidráulico – o regulamento permite – e, além do arranque passou a ser accionado igualmente durante a corrida, em especial nas acelerações. A Ducati inovou de novo nessa área, foi seguida com maior ou menor dificuldade pela concorrência um pouco à semelhança do que aconteceu com a caixa de velocidades ‘seamless’ com que a Honda revolucionou esse componente mecânico em 2011, e aprimorou ainda mais o sistema, que mantendo o seu acionamento hidráulico tem alegadamente na sua mais recente evolução parâmetros de altura pré-definidos bastando ao piloto pressionar um botão para ‘baixar’ e outro para ‘subir’ a moto que o sistema irá ‘acertar’ com essa mesma altura.

Por força da vantagem mecânica que a Ducati tirou do sistema rapidamente, as restantes marcas tiveram que desenvolver os seus ‘holeshot’, com maior ou menor dificuldade, sendo agora o conceito uma ‘norma’ comum a todas as equipas e motos presentes na grelha de partida que, antes de cada arranque, parecem ‘transformers’ a assumirem outra configuração…no que é mais uma apaixonante evolução tecnológica do MotoGP.